Windows 11: por que o antivírus virou desnecessário (e pode até atrapalhar)
Dados recentes sobre o uso de antivírus nos Estados Unidos revelam um padrão interessante: quanto mais velha a população, maior a dependência de software antivírus de terceiros. Entre americanos com 65 anos ou mais, 85% utilizam antivírus adicional, sendo que 70% pagam por essas soluções. A Geração X (45-54 anos) mantém 70% de taxa de uso, com 55% optando por versões pagas.
Em contraste, a Geração Z (16-24 anos) apresenta apenas 62% de uso, com meros 25% investindo em soluções pagas. Millennials mais jovens (25-34 anos) registram a menor taxa: 53% usam antivírus, e apenas 35% pagam por proteção.
Essa disparidade não reflete maior inteligência técnica dos mais jovens, mas sim o peso de paradigmas obsoletos. Boomers e Gen X’ers cresceram numa era onde instalar Norton ou Kaspersky era necessidade real no Windows XP. Esse condicionamento, combinado com propaganda agressiva e desconhecimento técnico, os torna mais propensos a instalar software que, ironicamente, prejudica seus computadores: deixando-os lentos, aumentando a superfície de ataque, atrapalhando a experiência com pop-ups e restrições contra o próprio usuário, sem ganhar proteção real. É dinheiro desperdiçado em troca de problemas.
No início dos anos 2000 era quase obrigatório instalar um antivírus de terceiros em computadores com Windows. O Windows XP oferecia pouca proteção nativa, e suites como Norton e Kaspersky eram essenciais para barrar vírus e spywares. Essa necessidade atravessou décadas. Só que o sistema mudou. Com o Windows 11, essa lógica deixou de fazer sentido: as proteções incorporadas evoluíram a ponto de eliminar a necessidade de soluções externas.
Ao longo da última década o Windows endureceu suas defesas integradas e, no 11, atingiu o ponto mais alto. Exigências de hardware como TPM 2.0, Secure Boot e virtualização garantem um ponto de partida mais seguro. Tudo isso fica centralizado no aplicativo Segurança do Windows, que integra o Microsoft Defender, o firewall, controles de conta e os recursos de isolamento.
O Windows 11 inclui o Microsoft Defender Antivirus (ex-Windows Defender), ativo por padrão. Ele monitora o sistema em tempo real, verifica downloads, agenda varreduras automáticas e recebe atualizações diárias de assinaturas de malware.
Testes independentes da AV-Comparatives de março de 2024 revelam taxas de proteção online praticamente idênticas:
A diferença de 0,03% entre Defender e Norton é estatisticamente irrelevante. Você não ganha proteção real, apenas problemas.
Além disso, o Windows 11 traz proteção contra ransomware, bloqueando alterações maliciosas em pastas do usuário, e recursos como:
Para quem navega, joga ou consome conteúdo, essas camadas já cobrem praticamente todo o risco do dia a dia. Desde que o usuário mantenha o sistema atualizado e pratique navegação prudente, o Windows 11 se basta.
Se antes um antivírus adicional era sinônimo de segurança, hoje ele cria problemas:
Qualquer software com privilégios elevados aumenta a superfície de ataque. Suites de segurança rodam como SYSTEM; basta uma vulnerabilidade nelas para que um invasor obtenha controle total da máquina. Os laboratórios de antivírus operam com orçamentos mínimos comparados aos proprietários dos sistemas operacionais. Não têm acesso ao núcleo dos sistemas, não os conhecem integralmente, e não são capazes de desenvolver soluções intimamente integradas.
Monitoramento constante consome CPU, memória e disco. Muitos antivírus modernos instalam diversos serviços residentes que, juntos, tornam o computador lento como se estivesse infectado. Eles ficam verificando arquivos e processos o tempo todo, consumindo recursos que deveriam estar disponíveis para suas tarefas reais.
As suites raramente são “só” antivírus: trazem VPN, limpadores, extensões e outros módulos supérfluos que concorrem com recursos nativos do Windows.
Ao instalar um antivírus externo, grande parte das proteções avançadas do Windows é desativada para evitar sobreposição. Em alguns casos, regras ASR deixam de atuar e o Defender para de monitorar áreas críticas. Muitas vezes eles interferem na funcionalidade de softwares legítimos que passam a apresentar problemas por culpa do antivírus.
Pop-ups de renovação, alertas em vermelho e mudanças forçadas de configurações (motor de busca do navegador, por exemplo) viram rotina. Em instalações corrompidas, não é incomum o antivírus comportar-se como malware.
A vulnerabilidade CVE-2025-29824, descoberta no driver do Windows Common Log File System (CLFS) em abril de 2025, ilustra perfeitamente a limitação dos antivírus de terceiros. Esta falha permitia escalada de privilégios locais até SYSTEM e foi explorada em ataques de ransomware pelo grupo Storm-2460.
5-7 de abril de 2025: Primeiras execuções do exploit ocorrem silenciosamente.
7 de abril de 2025: Microsoft Threat Intelligence Center (MSTIC) e Microsoft Security Response Center (MSRC) identificam atividades de exploração do zero-day no CLFS, observando o uso do malware PipeMagic para escalada de privilégios.
8 de abril de 2025: Microsoft publica detalhes técnicos e libera updates de segurança para Windows Server e Windows 10/11 afetados, corrigindo o CVE-2025-29824.
9 de abril de 2025: Microsoft atualiza seu advisório confirmando que Storm-2460 usou PipeMagic seguido da exploração do CLFS zero-day para implantar ransomware em múltiplas regiões e setores.
A Microsoft resolveu a vulnerabilidade em apenas um dia após sua divulgação interna. Nenhum software de antivírus poderia ter prevenido essa exploração. Vulnerabilidades zero-day, por definição, são desconhecidas até serem descobertas e exploradas. Se nem a Microsoft, proprietária e mantenedora do Windows, conhecia a falha, como McAfee, Kaspersky, Norton, Bitdefender ou Avast poderiam proteger contra ela?
Antivírus dependem de catálogos públicos de ameaças conhecidas. Todos os dias, novas ameaças são listadas e descritas nesses catálogos públicos, e a partir deles os softwares antivírus desenvolvem mecanismos de reconhecimento. Catálogos esses que muitas vezes são alimentados pelos próprios proprietários dos sistemas operacionais, que sempre que detectam novas vulnerabilidades, prontamente corrigem a vulnerabilidade de maneira definitiva no próprio sistema.
Essa abordagem é muito mais eficiente e segura, pois não demanda que seu computador fique rodando paralelamente software verificando arquivos e processos. Quando invasões massivas ocorrem com zero-days, não há o que fazer. Se você for exposto e for alvo, você será afetado. Se nem a Apple, Microsoft ou Google corrigiram a vulnerabilidade, não será o McAfee que te protegerá.
Segurança digital continua sendo, majoritariamente, responsabilidade do usuário. Nenhum antivírus adicional salva quem baixa software pirata, executa anexos suspeitos ou ignora avisos de atualização. Por outro lado, manter o sistema atualizado, usar navegadores modernos e desconfiar de links reduz quase todo o risco.
O Windows 11 sinaliza arquivos desconhecidos, bloqueia downloads duvidosos e exige consentimento para ações sensíveis. Se você responde com ceticismo e evita cliques impulsivos, o Defender e as proteções nativas bastam.
Você, provavelmente o usuário médio, não é importante o suficiente para alguém deliberadamente realizar grandes esforços para infectar seus sistemas criticamente. As ameaças mais comuns – emails de phishing, anúncios falsos, mensagens de golpistas – não são bloqueadas por software, mas por seu cérebro. Se o usuário não voluntariamente se expor ao risco, cometendo desintelligências em série, ele em geral não correrá risco algum.
Para gerações acostumadas a “otimizar” o computador manualmente, pode parecer contraintuitivo, mas o Windows 11 foi projetado para operar sem intervenção. Recursos como Sensor de Armazenamento gerenciam limpeza de arquivos, e tarefas de manutenção rodam automaticamente. Ferramentas de tune-up, limpadores de registro e suítes de segurança redundantes tendem a causar mais instabilidade do que ganhos.
Mudar configurações ocultas ou desativar serviços recomendados na internet também pode comprometer estabilidade e segurança. A Microsoft já equilibrou desempenho e proteção para a maioria dos usuários.
Se a dúvida persistir – “e se eu pegar um vírus?” – lembre-se de que o maior fator de risco é o comportamento do usuário, não a ausência de software extra. Utilize o computador com responsabilidade e deixe o Windows Security fazer o trabalho.
Em 2025, não apenas o Windows 11, mas praticamente todos os sistemas operacionais modernos oferecem segurança robusta sem apoio de suítes de terceiros. Isso vale para macOS, iOS, Android, ChromeOS e distribuições Linux. Adicionar antivírus extras raramente traz benefícios proporcionais e pode aumentar superfície de ataque, degradar performance e entupir o sistema com notificações.
Não vivemos numa realidade digital absolutamente segura. Mesmo grandes sistemas como Windows, macOS, iOS e Android possuem falhas e eventualmente são invadidos. Mas não é um antivírus que te protegerá contra essas invasões reais. É manter seu sistema atualizado, não instalar softwares piratas, e usar o cérebro antes de clicar.
Para a maioria dos usuários domésticos, a fórmula ideal é simples: sistema atualizado, comportamento vigilante, backups regulares. Usar programas como esses antivírus convencionais é uma decisão errônea, tomada por propaganda, costume ou desconhecimento. A verdadeira maneira de estar seguro é você ser vigilante consigo mesmo e manter seu sistema operacional e aplicativos atualizados.
Concentre-se no que importa – usar seus dispositivos para trabalhar, estudar ou se divertir sem complicação desnecessária.